O resultado das eleições de dia 18 terá efeitos que hoje ainda não são possíveis de aferir em pleno: sobre o governo, as políticas públicas, o sistema partidário português e a democracia.

A esquerda sofreu uma derrota em toda a linha. O Bloco teve uma grande derrota. O que o Bloco pode e deve fazer agora, e como se deve reorganizar, deixo para o debate interno — que é urgente, mas não pode ser apressado para não ser inconsequente.

Uma coisa é certa: estamos aqui para resistir e lutar por muito tempo.

Ainda mais importantes do que os desafios do Bloco, são os desafios de toda a gente de esquerda que não desiste e acredita que é possível resistir e devolver a esperança.

A consolidação e crescimento da extrema-direita traduzem um descontentamento popular multifacetado com o atual estado de coisas — descontentamento ao qual a esquerda tem sido incapaz de dar resposta. E não apenas em Portugal.

Em parte, por responsabilidades suas; em parte, por fatores externos.

Em Portugal, como em tantas outras democracias capitalistas, o neoliberalismo a que se abraçaram os governos exponenciou a desigualdade, isolou os indivíduos e enfraqueceu as organizações coletivas, como os sindicatos. A escola falhou — mas com tanta desigualdade, o que se poderia esperar?

As redes sociais e uma comunicação social que amplifica medos e insegurança são palco para a performance de ódio da extrema-direita. Até uma falsa azia é motivo para monopolizar a atenção.

Mas isso não explica tudo — principalmente o recuo enorme da esquerda.

Esses fatores não ilibam totalmente a nossa incapacidade de dar respostas convincentes a quem está desiludido com o atual estado de coisas: na economia, nas políticas e serviços públicos, na resposta aos medos e frustrações das pessoas, adubados pelo sensacionalismo, pelas redes dos super-ricos das plataformas e pela extrema-direita.

Falhámos em convencer as pessoas de que as soluções que apresentamos são as que servem a grande maioria — os de baixo.

Prevalece à esquerda o discurso defensivo, ao invés do progresso e da mudança, num tempo em que tanta gente desiludida exige mudanças urgentes. E como não compreender essa urgência e esse anseio?

Falemos então mais às pessoas sobre as mudanças que temos para fazer, sobre o progresso e as conquistas ansiamos. Da nossa alternativa à iniquidade do capitalismo gerido pelo centro e à alternativa da brutalidade do capitalismo associado ao fascismo.

Para resistir à maré de tempestade, a esquerda deve ser o horizonte de transformação e esperança que o socialismo nos proporciona. Só há resistência se houver esperança.