Ponto prévio óbvio: desde o início dos ataques horrorosos do Hamas, a 7 de outubro de 2023, foram mortos mais de 62 mil palestinianos e mais de mil israelitas. Os ataques deram-se na sequência de décadas de abusos e ocupação; e o estado de Israel foi criado após os campos de extermínio nazis. Urge encerrar este ciclo de violações dos direitos humanos.

O massacre de Hashashin

Na madrugada de 23 de março, as forças israelitas abriram fogo sobre vários veículos de socorro, devidamente identificados como tal e com luzes de emergência. Quinze paramédicos–oito funcionários do Crescente Vermelho, seis membros da defesa civil de Gaza e um funcionário da ONU– foram mortos, um a um, pelas forças militares israelitas e enterrados numa vala comum. Um décimo-sexto, Assaad al-Nassasra, continua desaparecido, tendo sido reportado como capturado pelos israelitas.

Nos dias seguintes, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, sigla inglesa) tentou aceder ao local, tendo sido impedido pelas forças israelitas. Quando, uma semana após o ataque, a OCHA chegou ao local, o seu responsável na Palestina lamentou: “Estamos a desenterrá-los com os seus uniformes, com as suas luvas. Estavam aqui para salvar vidas. Em vez disso, acabaram numa vala comum. Estas ambulâncias foram enterradas na areia. Há um veículo da ONU aqui, enterrado na areia. Um bulldozer das forças israelitas enterrou-os”.

A 1 de abril, testemunhas revelaram ao The Guardian que alguns corpos recuperados tinham mãos ou pés atados, sugerindo execução após detenção. No dia seguinte, um consultor forense confirmou indícios de execução, com tiros “específicos e intencionais” disparados à queima-roupa.

Uma abordagem sistemática

A brigada Golani, sob comando da 14ª brigada blindada liderada por Yehuda Vach, foi responsável pelo ataque. Este general foi anteriormente acusado pelas suas próprias tropas de demonstrar “desprezo pela vida humana”. Segundo o jornal israelita Haaretz, Vach terá dito: “Não há inocentes em Gaza”.

Antes da deslocação desta unidade para Gaza, um dos seus comandantes foi filmado a dizer aos soldados: “Qualquer pessoa que encontrem lá é um inimigo. Se identificarem alguém, eliminem-no.”

Este massacre não é um episódio isolado. É um caso horrendo que se insere numa estratégia deliberada, alinhada com os planos da liderança israelita, que continua a ser armarda pelo Ocidente.

A conivência da direita portuguesa

Por cá, insuficiente atenção tem sido dada ao assunto.

Salvo raras exceções dos poucos sociais democratas que por lá permanecem — Mota Amaral escreveu nestas páginas que “já tarda […] o reconhecimento formal do Estado da Palestina”; e Jorge Moreira da Silva, ex-candidato à liderança do PSD, assinou, na semana passada, uma declaração intitulada “O mundo deve agir com urgência para salvar os palestinianos em Gaza” —, o PSD remete Gaza ao esquecimento, ou pior.

Relembro o triste papel de Rangel, ao afirmar que um navio português que evidentemente transportava explosivos para Israel não transportava armas; e os cumprimentos que Bolieiro, Luís Garcia e Pedro Nascimento Cabral ofereceram ao embaixador israelita em pleno genocídio, normalizando-o.

Para além disso, no passado dia 31 de janeiro, PSD, CDS, IL e CH votaram contra todos os 5 projetos de resolução que recomendavam ao Governo o reconhecimento imediato do Estado da Palestina1.

É vergonhosa a conivência das atuais lideranças da direita portuguesa com o genocídio em Gaza. Quem não defende firmemente os direitos humanos, não defende nada — e partidos sem coluna vertebral não merecem consideração nas urnas.

Pensemos em Gaza na Páscoa e a 18 de maio.

  1. Estavam em causa propostas apresentadas pelo PCP (4/XVI/1), BE (7/XVI/1), Livre (107/XVI/1), PS (463/XVI/1) e PAN (542/XVI/1). A estes partidos juntou-se também Pedro Delgado Alves, cabeça de lista do PS por Coimbra, que votou contra os projetos do BE e do PCP—o mesmo deputado que, em plena ofensiva militar israelita, brindou com embaixador de Israel