Quando a vida dá limões…
A cada dia que passa torna-se mais evidente o desfile de pavões que se vão agitando na esperança de atrair apoiantes – eu incluído. Aproximam-se as duas semanas de campanha que antecedem a eleição da Assembleia da República dia 18 de maio – 11 para quem votar em mobilidade.
Não precisávamos de estar em eleições, Montenegro escolheu-o, porque não quis ser transparente, recusando esclarecer os portugueses quanto à possível violação de exclusividade das suas funções. Desde a construção da casa, à tentativa de extorsão judicial de um jovem, o nosso primeiro-ministro não tem vergonha em mostrar a sua chico-espertice. A sua continuação como líder do PSD constitui uma falência completa do bom senso.
É esta a situação em que estamos e com ela temos de trabalhar. Temos de tornar estas eleições numa oportunidade para pegar na esperança por um mundo melhor e concretizá-la numa configuração progressista da Assembleia da República.
Quando um açoriano ou açoriana coloca a cruz no boletim de voto, está a escolher as pessoas que serão eleitas pelos Açores (cinco pessoas proporcionalmente obtidas). Não se está a escolher, portanto, o primeiro-ministro, mas quem pretende que o represente. Além desta importante clarificação, existem mais dois aspetos cruciais a ter em conta: a abstenção e o voto útil. Estas dinâmicas são aquelas que empobrecem a democracia e a pluralidade. O voto útil até é contraproducente: se não se pretende que a extrema-direita eleja, temos de garantir que é outra força política a ficar em terceiro, no caso dos Açores. O BE é o partido melhor colocado para isso, sendo que, mesmo para eleger, bastaria que quem já votou Bloco, leva-se outro amigo a votar também. O voto útil também nos pode levar ao cenário de 2022: uma maioria absoluta que é incapaz de resolver os problemas, porque se instala no centrismo que nos trouxe até eles. Tenhamos em mente que o último governo que durou a legislatura inteira, 4 anos, e onde mais conquistas se somaram, foi no dito da «geringonça».
Não pretendo continuar este texto como um apelo ao voto, o programa fala por si e espero que sejamos capazes de nos próximos dias o apresentar claramente. Permitam-me falar da experiência do porta-a-porta, que temos feito com o objetivo de ouvir o que as pessoas têm a dizer, a partir do seu próprio espaço.
Muitas são as pessoas que cortam qualquer conversa à partida, afirmando que não têm qualquer interesse por política. Várias são aquelas que afirmam que «são todos iguais». Não falta cinismo e pessimismo. Não será de admirar, afinal, vivemos em tempo de crises.
Ao falar com estas pessoas pergunto-me como é possível esperar que os jovens possam ter uma atitude pró-ativa: a geração dos seus pais passou a vida a contagiar este cinismo.
Ainda assim, muitos são os jovens que vão puxando pelo associativismo, ou pela defesa de causas. Ou que estão na política a tentar garantir que há lugar para um futuro digno.
O meu apelo particular aos jovens é da necessidade de sermos nós a assumir a responsabilidade que temos pela nossa vida, de sermos uma força progressista capaz de clarear estes tempos de supressão da liberdade.
Para concluir, lembro-me de um senhor que nos abriu a porta: toda a vida votou no mesmo partido, apesar de, como vincou, a sua primeira bola de futebol ter sido oferecida por um presidente de junta de outro partido. A política é sobre propostas e valores e não sobre clubismos.
Tenhamos espírito crítico, humildade intelectual e empatia. Pensemos e tentemos fazê-lo além das nossas bolhas. Dia 18 de maio podemos mudar de vida.